20 de fevereiro de 2006

Dirigindo a própria vida! 2


Pois é, como eu ia dizendo...
Queria ter o direito de dirigir a minha própria vida...
Cheguei na autoescola concentrada e decidida, estava na chuva pronta pra me molhar e disse a mim mesma: "É agora ou nunca!".
O professor era jovem e parecia seguro, me falou que o medo é normal, o carro é um veículo perigoso e que "todas" as pessoas ficam inseguras na primeira vez. Quis recuar, sair correndo, voltar atrás, mas já era tarde, já tinha pago e não podia ficar no prejuízo. Olhei pra ele enquanto me perguntava o que eu sabia fazer e meu olhar assustado respondeu por mim. O professor me explicou que o carro de autoescola é diferente, tem pedais auxiliares para controle do veículo no caso de algum erro do aluno. Havia outra pessoa no carro que era o aluno da aula anterior à minha e teríamos que deixá-lo em casa.
Saímos da faculdade, onde eu estudava, eram 11 horas e teria que dirigir até o Cruzeiro (cidade do DF). Fiquei incrédula quando o professor falou para eu conduzir o carro. Tremi, suei, me agitei, mas ele me garantiu que eu conseguiria. O aluno confirmou que eu conseguiria, pois ele achou que não daria conta e havia acabado de conseguir...
Então eu fui, assustada, cheia de ousadia, confiando na experiência do professor, controlando a ansiedade e o medo, segui dirigindo o carro pelo eixo Monumental em direção ao Cruzeiro e em meio a um trânsito repleto de pessoas atrasadas e cansadas da correria diária. Em um cruzamento, enquanto aguardava a oportunidade de seguir meu caminho, um veículo avançou rapidamente pela direita, me ultrapassou e no susto deixei o carro morrer. O instrutor me pediu para continuar e parar no próximo acostamento. Neste momento, depois do susto comecei a chorar copiosamente, soluçava, tremia e suava muito. O instrutor continuou tranquilo, só observando e esperando. Depois de alguns minutos fui parando de chorar, respirando mais devagar, quando o professor me perguntou: "Está melhor agora? Vamos continuar?"
Faltava pouco para acabar a aula, estávamos chegando no meu serviço, estava cansada e com muito calor. Antes que eu fosse ao banheiro, as colegas que eu encontrava comentavam que eu estava vermelha. Comecei a me coçar e sentir um mal-estar. A Médica do serviço passou por mim e quando me viu foi logo perguntando se eu tinha comido algo diferente ou se tinha alergia a alguma coisa, pois estava apresentando sinais de choque anafilático. Ela me medicou e fiquei em repouso até melhorar completamente. Na época a explicação para aquela reação foi o estresse causado pela aula de direção e a minha necessidade de manter o controle. Meu corpo reagiu de forma acentuada ao medo e à exposição ao risco.
Depois daquele dia, as aulas foram menos assustadoras e fui percebendo que conseguiria, finalmente, tirar a carteira de motorista para poder escolher quando e para onde gostaria de ir. Por mais que pareça improvável, consegui passar na prova de direção. Hoje tenho habilitação tipo B, licença para dirigir veículos automotores e posso me conduzir para onde quiser e até posso dar carona para as colegas de trabalho.
Quem me vê ao volante nem imagina a dificuldade que foi superar meus medos e me acostumar a enfrentar a batalha de vida e morte que se tornou o trânsito.
Tenho como lição a dor e a delícia de enfrentar o medo e me sentir capaz de vencer obstáculos físicos e emocionais. Sei que posso, é difícil, vale a pena lutar e sofrer as consequências, correr o risco de acertar. Talvez, errar na primeira vez, mas desistir jamais!

OBS.: Link pra Primeira Parte do texto