3 de dezembro de 2021

Minha história educativa 2

Uma história sobre enganos e frustrações...

Eu tinha muita curiosidade e tudo queria saber.

Ficava fascinada enquanto andava pela cidade e olhava em redor, por todo lado via figuras e letras, grandes, pequenas ou coloridas. 

Tinha descoberto o mundo, e fazia questão de demonstrar que sabia decifrar aquele montão de sinais. 

Não existiam mais mistérios para mim, lia revistas, livros e até bulas de remédio. 

Se perguntasse a alguém alguma coisa e não obtinha uma resposta válida buscava enciclopédias e dicionários.

Pensando bem, não me recordo do nome de professores e mestres, porém, lembro bem das dificuldades e desafios que me mantinham sempre em alerta para descobrir  coisas novas. 

Talvez este esquecimento seja um mecanismo protetor para mim ou para aqueles que me provocavam, estimulavam, frustraram ou simplesmente não fizeram diferença na minha ambição de ler e compreender o mundo em que eu vivia.

Mais que ler, o desafio maior era reproduzir aquelas palavras, desenhar as letras, ou escrever o que tivesse vontade de comunicar. 

Minha primeira frustração escolar foi por volta da segunda série primária, estudei em uma escola pequena e simples em que muito pouco eu aprendia de novo, muitos exercícios de ditado e copiar números e letras. 

Preenchia muitas laudas de cadernos quadriculados ou pautados, tinha muita determinação, minha mão e punho doíam, mas eu só parava quando via a tarefa concluída.

Pois bem, tirava boas notas e fazia sucesso na escola, quando aprendi a teoria da relatividade. 

Muito antes de conhecer o famoso Einstein, eu sofri uma grande perda quando meu pai me levou a uma famosa escola católica que por sorte era bem perto de nossa casa. 

Fiz uma prova para ser admitida na terceira série. 

Cheia de alegria, pensei que seria muito fácil, pois eu sabia responder todas as perguntas e resolver todos os exercícios que os professores da minha escola faziam. Ledo engano! 

Quando vi aquelas páginas de prova, repletas de palavras que nunca tinha lido e contas de multiplicar e dividir eu suei, sofri e chorei. 

Todo meu esforço tinha sido em vão. Como eles ousavam fazer aquele tipo de pergunta a uma criança de sete anos? 

Eu nunca tinha visto na minha vida continhas de somar com três números e ainda não tinha decifrado aquele negócio de divisão.

Não fui aprovada, e logo me vi matriculada numa escola municipal, mas nunca me conformei com aquele resultado. 

Esforcei-me e busquei aprender tudo o que podia, lia os livros da orelha à contracapa, adorava aqueles que traziam um glossário ao final. 

Completei a terceira e a quarta série tendo em mente que ainda estudaria naquela escola que ficava vizinha de muro com a minha casa. 

Pedi ao meu pai que me levasse novamente lá para fazer a prova para a quinta série e obtive êxito.

Finalmente fui admitida e finalmente eu assimilei que tudo depende do referencial: na primeira escola eu era ótima, mas não aprendia nada; na segunda escola eu não me limitei ao conteúdo oferecido pelos professores, já não confiava na competência deles.

Naquela escola que era reconhecida pela boa formação, muitos e maiores desafios eu encontrei, e muito mais que isso, professores preparados, material didático e recursos muito interessantes, uma biblioteca incrível, aulas de artes e música. 

Valeu a pena o esforço! 

Descobri porque era necessário fazer prova pra entrar, era por causa da bolsa de estudos, sem essa oportunidade meu pai não poderia me matricular. 

Aproveitei bastante! 

Aprendi, então, que meu pai não tinha podido completar os estudos e sonhava em dar essa oportunidade as suas filhas.