Uma história sobre enganos e frustrações...
Eu tinha muita curiosidade e tudo queria saber.
Ficava
fascinada enquanto andava pela cidade e olhava em redor, por todo lado via
figuras e letras, grandes, pequenas ou coloridas.
Tinha descoberto o mundo, e
fazia questão de demonstrar que sabia decifrar aquele montão de sinais.
Não
existiam mais mistérios para mim, lia revistas, livros e até bulas de remédio.
Se
perguntasse a alguém alguma coisa e não obtinha uma resposta válida buscava
enciclopédias e dicionários.
Pensando bem, não me recordo do nome de professores e
mestres, porém, lembro bem das dificuldades e desafios que me mantinham sempre
em alerta para descobrir coisas novas.
Talvez este esquecimento seja um
mecanismo protetor para mim ou para aqueles que me provocavam, estimulavam, frustraram
ou simplesmente não fizeram diferença na minha ambição de ler e compreender o
mundo em que eu vivia.
Mais que ler, o desafio maior era reproduzir aquelas
palavras, desenhar as letras, ou escrever o que tivesse vontade de comunicar.
Minha primeira frustração escolar foi por volta da segunda série primária,
estudei em uma escola pequena e simples em que muito pouco eu aprendia de novo,
muitos exercícios de ditado e copiar números e letras.
Preenchia muitas laudas
de cadernos quadriculados ou pautados, tinha muita determinação, minha mão e
punho doíam, mas eu só parava quando via a tarefa concluída.
Pois bem, tirava boas notas e fazia sucesso na escola,
quando aprendi a teoria da relatividade.
Muito antes de conhecer o famoso
Einstein, eu sofri uma grande perda quando meu pai me levou a uma famosa escola
católica que por sorte era bem perto de nossa casa.
Fiz uma prova para ser
admitida na terceira série.
Cheia de alegria, pensei que seria muito fácil,
pois eu sabia responder todas as perguntas e resolver todos os exercícios que
os professores da minha escola faziam. Ledo engano!
Quando vi aquelas páginas
de prova, repletas de palavras que nunca tinha lido e contas de multiplicar e
dividir eu suei, sofri e chorei.
Todo meu esforço tinha sido em vão. Como eles
ousavam fazer aquele tipo de pergunta a uma criança de sete anos?
Eu nunca
tinha visto na minha vida continhas de somar com três números e ainda não tinha
decifrado aquele negócio de divisão.
Não fui aprovada, e logo me vi matriculada numa escola
municipal, mas nunca me conformei com aquele resultado.
Esforcei-me e busquei
aprender tudo o que podia, lia os livros da orelha à contracapa, adorava
aqueles que traziam um glossário ao final.
Completei a terceira e a quarta
série tendo em mente que ainda estudaria naquela escola que ficava vizinha de
muro com a minha casa. Pedi ao meu pai que me levasse novamente lá para fazer a
prova para a quinta série e obtive êxito.
Finalmente fui admitida e finalmente
eu assimilei que tudo depende do referencial: na primeira escola eu era ótima,
mas não aprendia nada; na segunda escola eu não me limitei ao conteúdo
oferecido pelos professores, já não confiava na competência deles.
Naquela escola que era reconhecida pela boa formação,
muitos e maiores desafios eu encontrei, e muito mais que isso, professores
preparados, material didático e recursos muito interessantes, uma biblioteca
incrível, aulas de artes e música.
Valeu a pena o esforço!
Descobri porque era
necessário fazer prova pra entrar, era por causa da bolsa de estudos, sem essa
oportunidade meu pai não poderia me matricular.
Aproveitei bastante!
Aprendi,
então, que meu pai não tinha podido completar os estudos e sonhava em dar essa
oportunidade as suas filhas.