Minha breve história...
Fui uma criança
que viveu muitas faltas, mas sobrevivi principalmente utilizando mecanismos
adaptativos. Cresci seguindo comandos e atendendo expectativas.
Muito curiosa e
criativa, sempre quis entender o mundo e as pessoas. Estudei, li e aprendi
muitas coisas, principalmente a ser útil e agradar as pessoas para que me
quisessem por perto. Queria ser querida.
Pensando estar
conquistando meus sonhos com meus esforços, consegui uma profissão que após
vários concursos públicos me garantiu a sobrevivência até hoje. Sou servidora
pública, técnica em enfermagem e já conquistei o direito de me aposentar.
Casei-me pela
primeira vez, tive duas filhas e apreciei cada momento da infância delas,
larguei a faculdade de psicologia quando ganhei a mais velha em 1991. Só voltei
à faculdade quando a mais nova já estava com 10 meses e assumi um concurso
público federal que me garantia creche e me permitia voltar a pagar a faculdade
em 1994.
Concluí a
graduação em 1998, uns 11 anos após o início, mas eu sabia que queria ser
psicóloga e ajudar as crianças a serem ouvidas. Sempre acreditei que as
crianças tinham muito a dizer, pois eu quando criança tinha muito a falar e
adoraria ser ouvida.
Deprimi quando
aconteceu o divórcio após 16 anos de relacionamento e minhas filhas já
adolescentes decidiram ir morar com o pai. Foi o início da importância do crochê
na minha vida e quando comecei a criar as roupas de bonecas. Além das ajudas
tradicionais, psiquiatras e psicoterapia, o crochê foi uma ferramenta de
conexão com minha criança e menina que gostava de brincar com bonecas.
Continuei no
serviço público como técnica em enfermagem até hoje, mas exercendo múltiplas funções
e atividades, vivia atribulada e cansada. Utilizando o artesanato como
ferramenta de criatividade participei de feiras e associações, conheci muitas
pessoas e desenvolvi minha arte. O Facebook e o Instagram surgiram como ferramenta
de divulgação.
By Luelena foi
o nome que dei a este blog que escrevi a partir de 2005 por recomendação da
psicóloga, deveria escrever textos contando minhas vivências e sentimentos. Redescobri
que gosto de escrever, fui blogueira, cheguei a participar de várias blogagens
coletivas e ajudar muitas pessoas que se identificavam com os meus escritos. Descobri
que quando falo dos meus sentimentos verdadeiros minhas reflexões alcançavam o
coração de muitas pessoas que comentavam e interagiam comigo.
Abandonei o
blog quando “melhorei” da depressão clínica, voltei a sair e a namorar. Conheci
uma pessoa especial e vivi uma linda história de amor com começo, meio e fim.
Superei diversos traumas e vivi intensamente o papel de mulher e esposa, foi o segundo
casamento.
Hoje me
arrependo de ter parado de escrever e me afastado do mundo das letras. Volta e
meia o sonho de escrever um livro e contar minhas histórias aparece na minha
mente, mas sempre acabei priorizando as demandas da família, trabalho e amigas.
Acho que muitos momentos vivi no automático, como um zumbi, atendendo as
expectativas e recebendo as migalhas de afeto e retribuição que eu considerava
merecidas.
Ao longo do primeiro casamento tinha feito vários cursos e especializações em psicoterapia infantil, mas não tinha iniciado o atendimento em clínica particular por falta de segurança em minha competência. Buscando resgatar o sonho de ser psicóloga infantil, comecei o curso de Psicodrama que me garantiu estágio e início da prática supervisionada em clínica infantil. Vivi muitos encontros verdadeiros com crianças pequenas que perceberam minha espontaneidade e criatividade. Utilizava meu corpo inteiro para efetuar a escuta atenta e ativa, também várias técnicas lúdicas e recursos terapêuticos, as crianças responderam se desenvolvendo e desabrochando a olhos vistos. Dessa forma comecei a ajudar as crianças e suas famílias.
Em 2016 fiquei sabendo de uma criança na minha família materna que estava em situação de risco e abandono. Atendendo ao pedido da minha mãe, fui ao Rio de Janeiro buscar S. com sete anos para minha vida. As duas filhas adultas moravam comigo e me ajudaram nos cuidados iniciais da criança que apresentava muitos traumas e dificuldades afetivas. Foi quando decidi abandonar o consultório particular que compartilhava com minhas colegas, deixei de ajudar as crianças a serem ouvidas por seus pais e famílias.
Me senti insegura,
minha S. precisava de muita dedicação e apoio para sua recuperação e
desenvolvimento. O desafio foi maior do que eu imaginava. Desde então, sinto
falta e culpa por deixar de atender no consultório. Pensei que eu era uma
fraude, já que tinha orientado diversos pais com sucesso, mas não estava conseguindo
fazer o mesmo por ela.
Em 2019 fiz uma
cirurgia plástica muito sonhada e planejada para melhorar meu bem-estar com o
corpo após o emagrecimento com a bariátrica. Mas como em outras ocasiões tive
meu processo de recuperação interrompido pela necessidade e demanda de pessoas
queridas. Minha mãe foi atropelada por uma bicicleta e ficou internada
aguardando cirurgia ortopédica no braço.
Minhas filhas
ficaram com minha mãe no hospital e não consegui cumprir o resguardo
recomendado pelo cirurgião, pois fiquei cuidando de S. Como consequência tive
complicações na ferida cirúrgica e me senti muito mal e mau. Quando minha mãe
saiu de alta após a cirurgia no braço, veio ficar na minha casa, mas eu ainda
estava com a barriga “aberta” e vazando secreções. Me senti péssima e
impotente.
Graças a Deus e muitos curativos, me recuperei em tempo de acompanhar uma de minhas filhas na cirurgia de retirada de miomas uterinos que a faziam sangrar e ficar com anemia, ela tinha só 28 anos. A cirurgia foi um sucesso! Não foi preciso remover todo o útero e “quebrou” a história familiar. Minha mãe precisou remover o útero (histerectomia) aos 38 anos, eu também sofria do mesmo problema e foi preciso fazer o procedimento aos 36 anos.
Ainda em 2019 minha mãe sofreu uma crise de vesícula e foi internada. Fiquei acompanhando durante os 21 dias, mas infelizmente ela possuía diversos fatores agravantes e faleceu em 12 de agosto após muito sofrimento.
A depressão bateu na minha porta novamente...
O pai das minhas
filhas maiores decidiu morar em Florianópolis buscando qualidade de vida após
superar um câncer e ter sua função renal totalmente prejudicada após a
quimioterapia. As duas foram morar com ele na nova cidade, e nem considerei
evitar pois sabia que ele precisava muito da ajuda das duas.
Outro dia eu conto mais...
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