Minha história laboral.

Fiquei tão assustada! Não esperava ver e ouvir o que
encontrei naquela unidade. No primeiro dia fui acompanhada pela colega de
equipe a fazer o banho no leito de um paciente poli traumatizado.
Muitos tubos e aparelhos mantinham a vida daquele indivíduo.... Eu conhecia as técnicas e procedimentos necessários naquele atendimento, mas experiência nenhuma.
Fiz o banho no leito na parte de cima do corpo e foi necessário virar para banhar as costas. Segurei o paciente e minha colega começou a efetuar o banho. Senti um cheiro forte de sangue misturado com suor. Minha vista escureceu...Acordei no repouso da equipe tomando um café forte e as colegas que me ajudaram após o desmaio rindo de mim. Elas me disseram para não ter vergonha de ter passado mal. Todas elas passaram por uma experiência como aquela.
Naquele dia eu percebi o extremo da fragilidade do corpo
humano. Tive certeza da minha própria fragilidade. Se aquela pessoa dependesse
só de mim. Teríamos sofrido sozinhos ali, eu e o paciente.
Aprendi a força que temos quando participamos de uma equipe! No dia seguinte fui capaz de fazer o banho sozinha naquele mesmo paciente e fui capaz de pedir ajuda quando precisei de uma terceira mão.
Aprendi a rezar muito todos os dias. Naquela época eu era espírita kardecista e acreditava que tinha um propósito. Confiei que eu era a pessoa certa na hora certa e consegui ajudar muitas pessoas...
Trabalhei naquele setor durante dois anos. Ganhei
experiência e maturidade. Participei de muitos momentos de "passagem" onde a vida física encontra o fim. Ouvi alguns
depoimentos e confissões de última hora quando não tinha tempo para chamar o
capelão do hospital. Segurei as mãos de filhos e pais que sofriam. Decidi
buscar a psicologia para ajudar na escuta e na comunicação daquelas pessoas.
Mas, eu sonhava em ser militar e fui buscar o concurso da
Aeronáutica para o "Corpo feminino da reserva da Aeronáutica".
Estudei, perdi. Fiz novamente o concurso e saí. Fui pra Belo Horizonte,
sobrevivi ao treinamento militar (outro dia conto essa história) e me tornei sargento da Aeronáutica. Fui
trabalhar no Hospital da Base Aérea aqui em Brasília.
Perdi minha conexão com a espiritualidade pela primeira vez. Não me adaptei a vida militar, descobri que a hierarquia não era a mesma para todos... Frustrei minhas expectativas...

Passei no concurso da secretaria de saúde e fui chamada
novamente. Consegui voltar a trabalhar na UTI do hospital de base. Mas, nunca
mais vivi aquela conexão espiritual novamente.
Fico aqui refletindo e procurando compreender o que vivi naquele período. Cuidei dos pacientes, ouvi as dúvidas dos familiares e traduzi a linguagem médica para que todos pudessem conservar sua esperança. Tentei inutilmente fazer a ponte entre pacientes, familiares e equipe de saúde... Frustrei minhas expectativas novamente...
E essa história continua no próximo episódio. Aguardem!