Acho que já protelei muito, vou finalmente contar minha história em partes. Afinal, vivi um desafio em cada momento.
Vocês já sabem que gosto de escrever, mas nunca contei que inserção no mundo das letras e dos signos se iniciou muito cedo.
Minha mãe teve a adolescência interrompida com minha chegada, e mesmo tendo que abandonar a escola para ajudar a criar seus irmãos menores, ainda acalentava o sonho de continuar seus estudos.
Meu pai era marinheiro e passava meses em alto mar, minha mãe dividia o tempo entre os cuidados da casa e brincar de bonecas comigo.
Eu era uma boneca, muito bem penteada, cuidada e vestida; logo me vi participando das brincadeiras em que ela era a professora e eu sua aluna atenta e ativa.
Um dia ela foi trabalhar de servente em uma pré-escola, e eu fui junto, lógico!Quanta coisa linda aquelas crianças faziam
com papéis, tinta, lápis e canetas...
Eu sempre perguntava muito e finalmente aprendi a ler por volta dos quatro anos e meio, muito antes de ter maturidade suficiente para entender o significado daquelas palavras.
Lia tudo que via pela frente, rótulos de produtos, cartazes, placas e até os garranchos pichados nos muros da rua.
Por exemplo, enquanto andávamos de ônibus, minha mãe envergonhada me segurava e falava “Não diga isso em voz alta, filha. É palavrão!”
Eu inconformada repetia bem alto
“Não é não! PU–TA, FO–DA, só tem dois pedacinhos.
Palavrão é
PIN-DA-MO-NHAN-GA-BA ou PA-RA-LE-LE-PÍ-PE-DO!”