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20 de outubro de 2009

Matando a saudade

APENAS UM ENCONTRO
Luiza Helena de Jesus


Eu, uma praça, um livro e um olhar. Moreno, cabelo curto, porte atlético, vestido como jovem e aparentando pouca idade. Sentou-se ao meu lado um pouco antes de me perguntar se incomodava.
- “Bom dia! Posso me sentar aqui ao seu lado? Você gosta mesmo de ler!”
Continuei minha leitura, como se nada tivesse me acontecido. Me olhava como uma pessoa faminta olha um prato suculento; como o cão que observa um frango assado na vitrine assadeira. Negou tantas vezes estar interessado em mim, que quase me fez acreditar. Seu olhar guloso me inspirou a sensação de ser desejada, apesar do excesso de peso. Estou obesa e nem um pouco satisfeita com meu corpo atual. Me senti ruborizar cada vez que ouvia seus elogios. Como era falante o rapaz!
Um olhar firme e penetrante me convenceu de que ele estivesse realmente falando a verdade. Nem adiantava continuar tentando manter minha atenção no livro... Achei-o muito novo, por esse motivo lhe perguntei qual a idade ele achava que eu teria. Me deu uns vinte e poucos, nesse momento eu retirei os óculos escuros e repeti a pergunta. Retribui o olhar fixamente para que me confirmasse a verdadeira idade. Percebi a surpresa no olhar dele enquanto falava:
- “Você parece ser mais madura, tipo uns trinta e poucos...”
Meu sorriso foi rapidamente substituído por uma gargalhada solta e gostosa que há muito eu não experimentava.
- “De que cor são os seus olhos? À primeira vista parecem castanhos, mas quando observados mais de perto, sob certa luz pode-se ver o brilho e a cor que refletem. São cor de mel, a mesma cor dos meus! Com certeza! Temos alguma coisa em comum!”
Confessei meus 41 anos, enquanto ele se esforçava em explicar como estou conservada:
- “... Aos meus olhos você é muito interessante...”
Interrompi com uma pergunta:
- “Então você sente uma forte atração por coroas gordinhas?”
Não consegui segurar o riso enquanto ele gaguejava tentando me esclarecer sobre a verdadeira diferença entre “fofinha, gordinha e gorda”. Uma sensação relaxante percorreu todo o meu corpo, percebi um forte aquecimento central... Eu estava gostando (e muito!) de estar sendo cortejada por um jovem saudável que poderia ter a garota que quisesse.
Nesse momento, percebi a mudança de olhar e o movimento de cabeça ligeiramente disfarçado em direção a duas jovens e sensuais adolescentes que passavam pela praça. Nem podiam suspeitar o clima de sedução e ferormônios que nos rondavam naquele momento. Meu novo amigo percebeu que o vi acompanhando as duas moças e iniciou rapidamente um discurso bastante eloquente sobre conteúdo versus corpo, mente vazia e fútil versus maturidade, que no meu caso, algo mais estaria despertando nele muito interesse, etc., etc. e tal!
Meu celular tocou como se me despertasse para a realidade da vida, e minha curta aventura terminou antes que pudesse sequer começar. Minha amiga estava confirmando minha presença para o almoço. Dessa forma me despedi do jovem interlocutor, que ainda me olhava com face suplicante...
- “Apenas um beijo! Pra celebrar esse encontro!”

OBS.:  Escrevi este texto ano passado, fiz algumas correções na gramática e estou republicando para "matar a saudade".

3 de julho de 2008

Será possível? Sonhar acordada?

Conheci uma pessoa pela Internet, num site de encontros. Coloquei minhas características pessoais e as características do parceiro desejado; após alguns dias de espera infrutífera, resolvi visitar o perfil dos candidatos. Observei muitas fotos de homens muito bem apresentados e fotogênicos, vi caras e bocas dos mais diversos tipos, perfis e tórax malhados e brilhantes, talvez até maquiados ou “fotoshopados”.
Entre tantos, uma foto me chamou atenção, um homem comum abraçado a uma menina que aparentava uns 8 anos. Enviei um convite pra bate-papo virtual, junto com a confirmação do e-mail recebi uma afirmativa que me deixou um tanto quanto incrédula: “Gosto das fofinhas”. Se negasse meu corpo atual eu teria ficado ofendida, mas fiquei ainda mais curiosa. No início da conversa, fiquei muito insegura e desconfiada, tivemos nossa primeira “briga/discussão” nos primeiros 10 minutos de diálogo.
A alegria do encontro virtual foi se intensificando, percebi que temos muito assunto, bom humor, brincadeiras e discussões. Surgiram temas “picantes”, afinal minha busca por um parceiro “virtual” estava intimamente relacionada à recente separação e tentativa de superar o sentimento de rejeição. Falar sobre sexo pode ser uma forma divertida de disfarçar a carência e com parceiro virtual é possível ensaiar as vivências que a timidez ou autocensura não permitem na vida real.
Nosso interesse mútuo foi estimulando cumplicidade e aproximação, aumento da intimidade e nascimento do desejo de encontro “real”; utilizamos as conversas com webcam para temperar nossos encontros e desencontros que eram literalmente impedidos pela distância quilométrica entre nossas residências.
Percebi que passava o dia todo aguardando o horário de nosso “encontro”, me preparava cuidadosamente, me penteando e perfumando pra ficar bem na foto. Surgiram muitas brincadeiras e cumplicidade. Esse relacionamento foi crescendo e prosseguindo como um namoro real com exceção dos imprevistos que geravam frustrações, tipo falta de energia elétrica, pane no computador ou defeito na linha telefônica. Sempre lhe contava em detalhes meus sonhos de como seria nosso encontro face-a-face, meus sentimentos e emoções, minhas dúvidas e ansiedades.
Do meu ponto de vista, sempre questionei a concretude do meu parceiro virtual. Até hoje acho impossível a existência de uma pessoa assim tão perfeita, bom ouvinte, carinhoso, alegre, divertido, romântico, enfim, com tantas qualidades e principalmente, que se interessasse por mim. Eu sei que o homem perfeito não existe, é história de ficção. Quando as mulheres pensam que encontraram o homem ideal, acontece que, ou é comprometido ou gay.
Até hoje, me divirto muito em nossos encontros, mas, tenho muito medo de me apaixonar. Saí recentemente de um relacionamento sofrido, em que lamentei reconhecer que meus sentimentos não foram correspondidos e valorizados. Ainda me sinto rejeitada, autoestima em tratamento, e defesas emocionais ativas pra evitar uma nova frustração amorosa.
Nesse aspecto, o relacionamento virtual pode se mostrar bastante seguro, um ensaio sem chances de decepção ou sofrimento, como uma grande brincadeira. Tive muitos sonhos (até eróticos) com meu parceiro virtual, por mais que meu impulso natural favorecesse a busca, eu sempre me conscientizava de que seria um encontro improvável e puramente físico, pra não pensar muito nos sentimentos, somente na satisfação do desejo carnal. Um encontro homem-mulher, ambos carentes de contato físico e satisfação sexual.
Pois bem, marcamos o encontro no restaurante do hotel em que estaria hospedado. Quem diria, me ligou poucas horas antes para me dizer que estaria ocupado e não poderia me ver.
Cheguei em casa cansada do dia corrido e da rotina monótona, desiludida e decepcionada, me aprontei pra dormir, mas antes, liguei o computador para uma última olhadinha nos e-mails e atualização da correspondência.
Quem eu encontro on-line por volta das 22 horas? Benedito!
Nem pude disfarçar minha insatisfação enquanto ele exercitou desculpas esfarrapadas de que a reunião foi desmarcada na última hora. Pela webcam eu fiz beicinho, “cara de mau” e me mostrei muito zangada, nada me faria ficar feliz agora, principalmente sabendo que estávamos naquele momento na mesma cidade.
Benedito me desafiou a encontrá-lo no quarto do hotel, disse que eu não teria coragem... Realmente, ele não me conhece bem, não tenho nada a perder!
Como estava muito contrariada, nem pensei no que estava fazendo, apenas me arrumei e segui pro hotel, sabendo que já era tarde e que deveria trabalhar logo cedo pela manhã. Coloquei umas coisinhas na bolsa, inclusive uma camisola sexy comprada há muito tempo, porém nunca utilizada por falta de boa companhia.
Enchi-me de coragem, ousando como nunca havia feito, se pensasse a sério, nunca teria me aventurado ou me arriscado tanto na vida. Um encontro às escuras com um homem que havia conhecido pela Internet apenas há seis meses, e que só tinha visto pela webcam.
Peguei a chave do carro e só me dei conta do avançado da hora quando percebi as luzes da noite e a lua que brilhavam iluminando meu tortuoso caminho. Parecia a cena de um filme tipo B, daqueles que são reprisados de madrugada.
O relógio da recepção do hotel marcava 23:55h, me aproximei do balcão e falei que Benedito me aguardava. O recepcionista me olhou de cima a baixo e perguntou se poderia ajudar, já chamando o gerente. Afinal eu não sabia a resposta a uma pergunta básica: “Benedito de quê?”
Um senhor sério e formal compareceu me informando que o hotel não permitia visitas noturnas. Sorri, muito envergonhada, e falei que ele poderia ligar para o quarto e confirmar se Benedito realmente me aguardava.
Fiquei muito constrangida naquele hall luxuoso, vendo os atendentes do hotel me julgando e dizendo que eu não poderia passar a noite. Nem sei de onde busquei coragem, sei apenas que dei meu sorriso mais inocente, falei que meu amigo não vinha à cidade há muito tempo e que viajaria no dia seguinte.
O gerente concordou que eu subisse após confirmar com Benedito e anotar meu nome e identidade. Neste momento eu falei que ficaria apenas duas horas e que ele não se preocupasse, pois sou muito discreta. Estava me sentindo a própria Julia Roberts em “Uma linda mulher”. Fiquei muito orgulhosa quando me aproximei do elevador, tinha certeza que havia sido confundida com uma profissional.
Minha alegria durou pouco, quando as portas do elevador se abriram, era grande e espelhado, o reflexo revelou a minha triste imagem refletida. Vi-me como realmente sou, uma mulher comum, muito acima do peso, aparentando meus 40 anos, vestida como uma dona de casa cafona, segurando uma sacolinha do lado e totalmente envergonhada pela situação que estava passando.
Ao chegar ao andar referido, percebi que havia esquecido o número do apartamento, fiquei com vontade de voltar correndo pra casa, pro meu esconderijo como uma garotinha assustada.
Os pensamentos se passavam muito rápido pela minha cabeça e meu corpo estava se modificando com a mesma velocidade, sentimento de medo, ousadia, culpa e arrependimento. Nesses breves segundos, vi minha vida toda se passar diante dos olhos. Enquanto pensava no que deveria fazer, meu coração se acelerou e comecei a sentir os efeitos da adrenalina correndo pelas minhas veias e me preparando pra luta ou fuga.
E se fosse tudo mentira? e se ele não fosse como eu imaginava? e se fosse abusado ou enganador? O quer fazer? Pensei várias vezes em sair correndo, mas o desafio me fazia prosseguir. Que dúvida, que medo! Estava completamente excitada pelo inusitado da situação. Aqueles segundos me pareciam horas...
Suava intensamente, minhas pernas tremiam, minha boca estava seca e o coração descompassado... Como fazer? Bato na porta, e se não for ele? O que dizer? Parei na frente da primeira porta e bati repetidamente, pronta pra correr na direção oposta. Enquanto agradecia a Deus por outro alguém desconhecido não ter aberto, vejo uma porta se abrindo e uma cabeça olhando pra mim, parecia tão assustado quanto eu.
Reunindo minhas últimas forças, me aproximei, fiquei congelada diante da porta aberta e a frente de um homem completamente nu. Não sabia o que dizer ou fazer, um grande aperto no peito indicava que eu teria um colapso ali, naquela hora. Em todos os meus devaneios nunca pensei que me sentiria assim tão sem ação chegado o momento que eu tanto esperava, sorri assustada e impactada.
Meus pensamentos foram interrompidos quando Benedito falou: “Se ficarmos aqui, vou me resfriar!” Consegui apenas dar um passo na direção do quarto até perceber o quando ele estava excitado...
Diante da minha total falta de iniciativa, Benedito me abraçou, ao mesmo tempo em que fechou a porta, me beijou com tanta intensidade e paixão que parecia que éramos namorados e amantes há muito tempo.
Senti uma grande fraqueza, minhas pernas simplesmente falharam como se me rendesse àquele abraço, sentindo o calor do corpo que me envolvia... “Ele mentiu, disse que é mais alto que eu... Quanto carinho! Como cheira bem! Que abraço gostoso!” Continuamos nos abraçando e beijando. Rolamos pela cama, entre gestos e gemidos afetuosos. Estava totalmente inebriada, envolta em milhares de sensações e percepções. Sentia-me totalmente confortável, o olhar de Benedito transbordava desejo e satisfação. Vivi um momento de deusa, protegida, confiante, toda poderosa! Um momento interminável, a noite parecia não ter fim... Uma noite de êxtase, diversão, alegria e prazer!
Será Benedito, real, concreto ou imaginário?

14 de março de 2008

Apenas um encontro!


Uma praça, um livro e um olhar.
Sentou-se ao meu lado um pouco antes de me perguntar se incomodava.
- "Bom dia! Posso me sentar aqui ao seu lado?"
Moreno, cabelo curto, porte atlético, vestido como jovem e aparentando pouca idade.
- "Você gosta mesmo de ler!"
Continuei minha leitura, como se nada tivesse me acontecido.

Me olhava como uma pessoa faminta olha um prato suculento; como o cão que observa um frango assado na vitrine assadeira. Negou tanta vezes estar interessado em mim, que quase me fez acreditar. Seu olhar guloso me inspirou a sensação de ser desejada, apesar do excesso de peso. Estou obesa e nem um pouco satisfeita com meu corpo atual. Me senti ruborizar cada vez que ouvia seus elogios. Como era falante o rapaz!
Um olhar firme e penetrante me convenceu de que ele estivesse realmente falando a verdade.
Nem adiantava continuar tentando manter minha atenção no livro...
Achei-o muito novo, por esse motivo lhe perguntei qual a idade que ele achava que eu tenho. Me deu uns vinte e poucos, neste momento eu retirei os óculos escuros e repeti a pergunta. Retribui o olhar fixamente para que me confirmasse a verdadeira idade. Percebi a surpresa no olhar dele enquanto falava:
- "Você parece ser mais madura, tipo uns trinta e poucos..."
Meu sorriso foi rapidamente substituído por uma gargalhada solta e gostosa que há muito eu não experimentava.
- "Que cor são os seus olhos? À primeira vista parecem castanhos, mas quando observados mais de perto, sob certa luz pode se ver o brilho e a cor que refletem. São cor de mel, a mesma cor dos meus! Com certeza! Temos alguma coisa em comum!"
Confessei meus 41 anos, enquanto ele se esforçava em explicar como estou conservada:
- "... Aos meus olhos você é muito interessante..."
Interrompi com uma pergunta:
- "Então você sente uma forte atração por coroas gordinhas?"
Não consegui segurar o riso enquanto ele gaguejava tentando me esclarecer sobre a verdadeira diferença entre "fofinha, gordinha e gorda".
Uma sensação relaxante percorreu todo o meu corpo, percebi um forte aquecimento central... Eu estava gostando (e muito!) de estar sendo cortejada por um jovem saudável que poderia ter a garota que quisesse. Neste momento, percebi a mudança de olhar e o movimento de cabeça ligeiramente disfarçado em direção à duas jovens e sensuais adolescentes que passavam pela praça. As moças nem podiam suspeitar do clima de sedução e ferormônios que nos rondavam naquele momento. Meu novo amigo percebeu que o vi acompanhando o andar das duas moças e iniciou rapidamente um discurso bastante eloquente sobre conteúdo e corpo, mente vazia e fútil e a maturidade de muita experiência de vida que no meu caso estariam despertando nele muito interesse, etc., etc. e tal!
Meu celular tocou como se me despertasse pra realidade da vida e minha curta aventura terminou antes que pudesse começar. Minha amiga estava confirmando minha presença pro almoço e dessa forma me despedi do jovem interlocutor, que ainda me olhava com face suplicante...
- "Apenas um beijo! Pra celebrar esse encontro!"

28 de janeiro de 2007

Meu reencontro...


Ele nem sabe ainda, mas, nossa história de amor começou muito antes, exatamente por volta de 85, quando conheci sua poesia e suas canções. A letras românticas falando daquele amor platônico, tão distante tão real, fizeram parte de minha adolescência, me acompanharam, a cada namoro rompido e cada reconciliação.
Muitos encontros e desencontros ocorreram enquanto eu estudava e começava a trabalhar, por volta dos 19 anos. Buscando conhecer a vida e as pessoas, me relacionava com uns e outros, tentando achar a minha alma gêmea... Não cansava de buscar, procurava em todos os lugares, teatros, bailes, no trabalho, na igreja, nos bares...
Enquanto isso curtia as baladas ao som suave da sua música, às vezes, pensava que ele escrevia especialmente para mim, com meus conflitos juvenis, dificuldades, timidez e rejeições. Não entendia como ele conseguia, a cada novo lançamento, tratar especialmente daquele momento da minha vida, e ao mesmo tempo tinha certeza de que ele só estava declamando melodias a partir dos seus próprios sentimentos.
Isso mesmo, o poeta na sua simplicidade de artista consegue traduzir e expressar a alma do povo. Somos todos iguais, feitos de corpo, alma e sentimentos... Cada um é único e especial, mas ao mesmo tempo Arantes conseguia dar palavras suaves e fortes, tristes e otimistas, apaixonadamente romântico como alguém que ama, sobretudo, a vida.
Pois é, acho que estou enrolando muito...rsrs...
Nosso primeiro encontro aconteceu por volta de 86 ou 87, se não me falha a memória!
No Grande Circular (uma casa de espetáculos em Brasília, muito singular, pois o palco ficava no picadeiro como um circo e as arquibancadas rodeavam em meia lua, era utilizado para muitos tipos de apresentação e oferecia um preço considerado popular naquela época devido à campanhas de incentivo à cultura. Deixou saudades...) o show foi anunciado com grande antecedência, e eu e três amigas do trabalho combinamos de comprar os ingressos antecipados para garantir nossa presença naquele evento imperdível.
Finalmente, apesar de atrasado, saiu o pagamento, comemoramos juntas e depositamos nosso dinheirinho na mão da amiga mais fiel e mais desenvolta. "Pode de deixar, compro nossos ingressos e encontro vocês lá!"
No dia do inesquecível show, não conseguíamos encontrar nossa amiga, faltou ao trabalho, não atendia o telefone... As outras duas me disseram que infelizmente estavam desistindo de assistir ao nosso ícone do momento. Eu falei: "Não podemos perder a primeira apresentação do Guilherme Arantes em Brasília!"
Não teve jeito, tive que ir sozinha, e como sou muito tímida, foi um verdadeiro desafio. Elas disseram que eu não teria coragem, pois é, se arrependeram!. risos... Tiveram que me engolir contando em detalhes as emoções que vivi naquele glorioso encontro.
Vesti e tirei centenas de peças de roupas, imaginando se estaria de acordo, não era de muito sair, sempre estudei bastante, meus melhores amigos são os livros. Não sabia qual seria a forma adequada de comparecer a um evento assim tão importante... para mim! Decidi usar tênis, um jeans básico, a já famosa camiseta branca e por cima, só pra proteger do vento frio da noite, coloquei uma camisa azul que havia seqüestrado no guarda-roupa do meu pai.
Ainda faltava conseguir o ingresso... e agora, como faria?
Peguei o restante das minhas economias e saí, juntei toda a minha "cara de pau" e fui sofrendo no circular até chegar na rodoviária pensando em como iria descobrir um cambista pra comprar o ingresso? Sei lá... Quando chegar eu vejo!
Chegando havia uma fila enorme, as pessoas aguardando para entrarem na sala de espetáculos, e eu ficando com mais medo de não conseguir... tenho uma dificuldade imensa em aceitar frustrações...
De repente... ouvi um grito...
- "Ei moça!..." apressei o passo, o que será?... Tive medo, estava desacompanhada...
- "Péraí... Moça!" ele apressou o passo em minha direção... hoje não é o meu dia ... "Jesus, me protege!", pensei enquanto meu coração disparava...
- "Moça, Quer um ingresso?" nem acreditei no que ouvia, será que é verdade?
- "Moça, tenho ingresso num bom preço!"
Parei e pensei, Jesus é mesmo muito bom! Não só ouviu meu clamor, como providenciou o que eu precisava na hora certa, pois a fila já havia seguido para dentro do teatro e o show estava começando... Consegui ouvir os primeiros acordes enquanto passava apressada pelos portões, os seguranças me encaminhavam na direção do meu assento, cada vez mais pra perto do palco... ???
Meu coração batia mais forte. Será que agüento tanta emoção? O ingresso que aquele rapaz me vendeu era na segunda fila! Me aproximei procurando minha posição e percebi muitas pessoas me olhando, fiquei ruborizada... Nem acreditei no que vi, o locutor avisava que adentrava o palco: o fabuloso Guilherme Arantes! Brilhos de flashs e o som forte do piano, eu já estava chorando de emoção nesta hora...
Finalmente consegui! e o melhor de tudo, estava ali de frente ao meu cantor favorito e entendi porque tanta gente me olhava, assim com admiração... Eu estava exatamente com o mesmo figurino dele, mas como? se perguntavam... Eu comecei a rir e a cantar, como nunca tinha cantado antes... Acho que pensaram que eu era sua amiga ou coisa parecida e tínhamos combinado: tênis, calça jeans, camiseta branca e camisa azul de mangas compridas... Me senti a própria celebridade! E curti, me deliciei, com a minha sorte naquele dia.
Quando a vi...
Logo ali, tão perto
Tão ao meu alcance
Tão distante, tão real ,
Tão bom perfume...
Sei lá!
Sei que estou me prolongando, mas não vou deixar de contar o verdadeiro motivo de estar escrevendo hoje. Nesses mais de 20 anos, trabalhei, estudei, me casei, tive filhas, me formei, amei e fui amada a cada dia; vivi intensamente cada etapa da minha vida... Hoje sou uma quarentona, separada, rejeitada, vendo as rugas surgindo no meu rosto, sentindo a pressão da gravidade cada vez mais forte... Me deprimi, busquei ajuda, já estou em processo de recuperação, afinal; foram 16 anos de vida dedicada à marido e filhas, adiei alguns sonhos, batalhei juntamente com o antigo companheiro em busca de novas conquistas e desafios da vida em família. Considerava o NÓS mais importante do que o EU. Tudo bem, "acertando e errando, mas sempre aprendendo a jogar..."
Nada melhor do que um dia após o outro. Quando menos esperava, vi um anúncio: Guilherme Arantes no Café Cancun em Brasília. Não pude evitar, verifiquei todos os detalhes, me arrumei, foi um encontro importante, não apenas com o poeta que embalou meus sonhos e desencantos com suas belas melodias. Encontrei aquela jovem romântica que sonhava com o príncipe encantado que a tiraria deste mundo e a levaria para reinar numa terra cheia de leite e mel. Sou grata a Deus por minha família, saúde e vida.
Estou aqui retomando um antigo amor... Amor pela letra, pela poesia, a arte de escrever e contar histórias cheias de emoção. Obrigada Guilherme Arantes, nosso show foi lindo! Cheio de fortes emoções, chorei, sorri, amei! Obrigada por não ter desistido de escrever suas canções, sinto pelos discos não vendidos, sinto por nosso mundo estar cheio de pirataria e dominado pelos marqueteiros de plantão. Não me importo se você não aparece na televisão. Acredito em você e no seu sonho de valorizar nossa própria cultura, de dar sua cor e seu som tão verdadeiro à MPB.
Entra em cena
Faz seu número
Faz meu gênero
Ser seu fã nº1
Ali, no gargarejo
Jogando beijo.

Obrigada também pela foto! Valeu a espera! Foi um bom reencontro!