17 de novembro de 2021

Toda história tem um começo

 Minha história laboral.

Comecei o exercício da minha profissão como técnica em enfermagem em 1986 aos 19 anos de idade. Fui chamada pelo concurso para trabalhar na secretaria de saúde aqui em Brasília-DF, no Hospital de Base - HB. No meu primeiro dia de trabalho fui encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva - UTI daquele hospital. 

Hoje esse hospital ainda existe e continua sendo referência na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento em politraumas, emergências cardiovasculares, neurocirurgia, cirurgia cardiovascular, atendimento onco-hematológico e transplantes.

Fiquei tão assustada! Não esperava ver e ouvir o que encontrei naquela unidade. No primeiro dia fui acompanhada pela colega de equipe a fazer o banho no leito de um paciente poli traumatizado.

Muitos tubos e aparelhos mantinham a vida daquele indivíduo.... Eu conhecia as técnicas e procedimentos necessários naquele atendimento, mas experiência nenhuma.

Fiz o banho no leito na parte de cima do corpo e foi necessário virar para banhar as costas. Segurei o paciente e minha colega começou a efetuar o banho. Senti um cheiro forte de sangue misturado com suor. Minha vista escureceu...

Acordei no repouso da equipe tomando um café forte e as colegas que me ajudaram após o desmaio rindo de mim. Elas me disseram para não ter vergonha de ter passado mal. Todas elas passaram por uma experiência como aquela. 

Naquele dia eu percebi o extremo da fragilidade do corpo humano. Tive certeza da minha própria fragilidade. Se aquela pessoa dependesse só de mim. Teríamos sofrido sozinhos ali, eu e o paciente.

Aprendi a força que temos quando participamos de uma equipe! No dia seguinte fui capaz de fazer o banho sozinha naquele mesmo paciente e fui capaz de pedir ajuda quando precisei de uma terceira mão.

Aprendi a rezar muito todos os dias. Naquela época eu era espírita kardecista e acreditava que tinha um propósito. Confiei que eu era a pessoa certa na hora certa e consegui ajudar muitas pessoas...

Trabalhei naquele setor durante dois anos. Ganhei experiência e maturidade. Participei de muitos momentos de "passagem" onde a vida física encontra o fim. Ouvi alguns depoimentos e confissões de última hora quando não tinha tempo para chamar o capelão do hospital. Segurei as mãos de filhos e pais que sofriam. Decidi buscar a psicologia para ajudar na escuta e na comunicação daquelas pessoas.

Mas, eu sonhava em ser militar e fui buscar o concurso da Aeronáutica para o "Corpo feminino da reserva da Aeronáutica". Estudei, perdi. Fiz novamente o concurso e saí. Fui pra Belo Horizonte, sobrevivi ao treinamento militar (outro dia conto essa história) e me tornei sargento da Aeronáutica. Fui trabalhar no Hospital da Base Aérea aqui em Brasília.

Perdi minha conexão com a espiritualidade pela primeira vez. Não me adaptei a vida militar, descobri que a hierarquia não era a mesma para todos... Frustrei minhas expectativas...

Já era casada e tive minha primeira filha. Tive que abandonar a psicologia para estudar para concursos pois precisava sair da Aeronáutica e encontrar outra fonte de subsistência. Realizei meu sonho! Mas percebi que já era feliz lá no Hospital de Base e nem sabia.

Passei no concurso da secretaria de saúde e fui chamada novamente. Consegui voltar a trabalhar na UTI do hospital de base. Mas, nunca mais vivi aquela conexão espiritual novamente.

Fico aqui refletindo e procurando compreender o que vivi naquele período. Cuidei dos pacientes, ouvi as dúvidas dos familiares e traduzi a linguagem médica para que todos pudessem conservar sua esperança.  Tentei inutilmente fazer a ponte entre pacientes, familiares e equipe de saúde... Frustrei minhas expectativas novamente...

E essa história continua no próximo episódio. Aguardem!

@by_luelena

5 de novembro de 2021

Minha história educativa

Acho que já protelei muito, vou finalmente contar minha história em partes. Afinal, vivi um desafio em cada momento.

Vocês já sabem que gosto de escrever, mas nunca contei que inserção no mundo das letras e dos signos se iniciou muito cedo. 

Minha mãe teve a adolescência interrompida com minha chegada, e mesmo tendo que abandonar a escola para ajudar a criar seus irmãos menores, ainda acalentava o sonho de continuar seus estudos. 

Meu pai era marinheiro e passava meses em alto mar, minha mãe dividia o tempo entre os cuidados da casa e brincar de bonecas comigo. 

Eu era uma boneca, muito bem penteada, cuidada e vestida; logo me vi participando das brincadeiras em que ela era a professora e eu sua aluna atenta e ativa. 

Um dia ela foi trabalhar de servente em uma pré-escola, e eu fui junto, lógico!

Quanta coisa linda aquelas crianças faziam com papéis, tinta, lápis e canetas...

Eu sempre perguntava muito e finalmente aprendi a ler por volta dos quatro anos e meio, muito antes de ter maturidade suficiente para entender o significado daquelas palavras. 

Lia tudo que via pela frente, rótulos de produtos, cartazes, placas e até os garranchos pichados nos muros da rua. 

Por exemplo, enquanto andávamos de ônibus, minha mãe envergonhada me segurava e falava “Não diga isso em voz alta, filha. É palavrão!” 

Eu inconformada repetia bem alto 

“Não é não! PU–TA, FO–DA, só tem dois pedacinhos. 

Palavrão é PIN-DA-MO-NHAN-GA-BA ou PA-RA-LE-LE-PÍ-PE-DO!”

16 de outubro de 2021

Minha história dá um livro?

 Minha breve história...

        Sou Luiza Helena, tenho 55 anos, moro em Brasília, nasci no Rio de Janeiro e fui criada em Nova Friburgo.

Fui uma criança que viveu muitas faltas, mas sobrevivi principalmente utilizando mecanismos adaptativos. Cresci seguindo comandos e atendendo expectativas.

Muito curiosa e criativa, sempre quis entender o mundo e as pessoas. Estudei, li e aprendi muitas coisas, principalmente a ser útil e agradar as pessoas para que me quisessem por perto. Queria ser querida.

Pensando estar conquistando meus sonhos com meus esforços, consegui uma profissão que após vários concursos públicos me garantiu a sobrevivência até hoje. Sou servidora pública, técnica em enfermagem e já conquistei o direito de me aposentar.

Casei-me pela primeira vez, tive duas filhas e apreciei cada momento da infância delas, larguei a faculdade de psicologia quando ganhei a mais velha em 1991. Só voltei à faculdade quando a mais nova já estava com 10 meses e assumi um concurso público federal que me garantia creche e me permitia voltar a pagar a faculdade em 1994.

Concluí a graduação em 1998, uns 11 anos após o início, mas eu sabia que queria ser psicóloga e ajudar as crianças a serem ouvidas. Sempre acreditei que as crianças tinham muito a dizer, pois eu quando criança tinha muito a falar e adoraria ser ouvida.

Deprimi quando aconteceu o divórcio após 16 anos de relacionamento e minhas filhas já adolescentes decidiram ir morar com o pai. Foi o início da importância do crochê na minha vida e quando comecei a criar as roupas de bonecas. Além das ajudas tradicionais, psiquiatras e psicoterapia, o crochê foi uma ferramenta de conexão com minha criança e menina que gostava de brincar com bonecas.

Continuei no serviço público como técnica em enfermagem até hoje, mas exercendo múltiplas funções e atividades, vivia atribulada e cansada. Utilizando o artesanato como ferramenta de criatividade participei de feiras e associações, conheci muitas pessoas e desenvolvi minha arte. O Facebook e o Instagram surgiram como ferramenta de divulgação.

By Luelena foi o nome que dei a este blog que escrevi a partir de 2005 por recomendação da psicóloga, deveria escrever textos contando minhas vivências e sentimentos. Redescobri que gosto de escrever, fui blogueira, cheguei a participar de várias blogagens coletivas e ajudar muitas pessoas que se identificavam com os meus escritos. Descobri que quando falo dos meus sentimentos verdadeiros minhas reflexões alcançavam o coração de muitas pessoas que comentavam e interagiam comigo.

Abandonei o blog quando “melhorei” da depressão clínica, voltei a sair e a namorar. Conheci uma pessoa especial e vivi uma linda história de amor com começo, meio e fim. Superei diversos traumas e vivi intensamente o papel de mulher e esposa, foi o segundo casamento.

Hoje me arrependo de ter parado de escrever e me afastado do mundo das letras. Volta e meia o sonho de escrever um livro e contar minhas histórias aparece na minha mente, mas sempre acabei priorizando as demandas da família, trabalho e amigas. Acho que muitos momentos vivi no automático, como um zumbi, atendendo as expectativas e recebendo as migalhas de afeto e retribuição que eu considerava merecidas.

Ao longo do primeiro casamento tinha feito vários cursos e especializações em psicoterapia infantil, mas não tinha iniciado o atendimento em clínica particular por falta de segurança em minha competência. Buscando resgatar o sonho de ser psicóloga infantil, comecei o curso de Psicodrama que me garantiu estágio e início da prática supervisionada em clínica infantil. Vivi muitos encontros verdadeiros com crianças pequenas que perceberam minha espontaneidade e criatividade. Utilizava meu corpo inteiro para efetuar a escuta atenta e ativa, também várias técnicas lúdicas e recursos terapêuticos, as crianças responderam se desenvolvendo e desabrochando a olhos vistos. Dessa forma comecei a ajudar as crianças e suas famílias.

Em 2016 fiquei sabendo de uma criança na minha família materna que estava em situação de risco e abandono. Atendendo ao pedido da minha mãe, fui ao Rio de Janeiro buscar S. com sete anos para minha vida. As duas filhas adultas moravam comigo e me ajudaram nos cuidados iniciais da criança que apresentava muitos traumas e dificuldades afetivas. Foi quando decidi abandonar o consultório particular que compartilhava com minhas colegas, deixei de ajudar as crianças a serem ouvidas por seus pais e famílias.

Me senti insegura, minha S. precisava de muita dedicação e apoio para sua recuperação e desenvolvimento. O desafio foi maior do que eu imaginava. Desde então, sinto falta e culpa por deixar de atender no consultório. Pensei que eu era uma fraude, já que tinha orientado diversos pais com sucesso, mas não estava conseguindo fazer o mesmo por ela.

Em 2019 fiz uma cirurgia plástica muito sonhada e planejada para melhorar meu bem-estar com o corpo após o emagrecimento com a bariátrica. Mas como em outras ocasiões tive meu processo de recuperação interrompido pela necessidade e demanda de pessoas queridas. Minha mãe foi atropelada por uma bicicleta e ficou internada aguardando cirurgia ortopédica no braço.

Minhas filhas ficaram com minha mãe no hospital e não consegui cumprir o resguardo recomendado pelo cirurgião, pois fiquei cuidando de S. Como consequência tive complicações na ferida cirúrgica e me senti muito mal e mau. Quando minha mãe saiu de alta após a cirurgia no braço, veio ficar na minha casa, mas eu ainda estava com a barriga “aberta” e vazando secreções. Me senti péssima e impotente.

Graças a Deus e muitos curativos, me recuperei em tempo de acompanhar uma de minhas filhas na cirurgia de retirada de miomas uterinos que a faziam sangrar e ficar com anemia, ela tinha só 28 anos. A cirurgia foi um sucesso! Não foi preciso remover todo o útero e “quebrou” a história familiar. Minha mãe precisou remover o útero (histerectomia) aos 38 anos, eu também sofria do mesmo problema e foi preciso fazer o procedimento aos 36 anos.

Ainda em 2019 minha mãe sofreu uma crise de vesícula e foi internada. Fiquei acompanhando durante os 21 dias, mas infelizmente ela possuía diversos fatores agravantes e faleceu em 12 de agosto após muito sofrimento. 

A depressão bateu na minha porta novamente...

O pai das minhas filhas maiores decidiu morar em Florianópolis buscando qualidade de vida após superar um câncer e ter sua função renal totalmente prejudicada após a quimioterapia. As duas foram morar com ele na nova cidade, e nem considerei evitar pois sabia que ele precisava muito da ajuda das duas.

Fiquei sozinha com S.,  cheia de desafios, conflitos e luto. Me senti abatida e impotente. Após várias situações e com ajuda da conselheira tutelar S. foi matriculada numa escola em período integral e pude retornar a trabalhar, pois já tinha tirado todas as férias e licenças possíveis.

Foi então que em 2020 começou a pandemia... 

Outro dia eu conto mais...

@by_luelena

9 de agosto de 2021

O que a atualidade nos faz?

Quem se sente ambivalente em atender as expectativas?
Quando embarquei no Instagram, só queria um álbum de fotos dos vestidos de boneca que fiz e vendi. Queria olhar e me orgulhar da minha criatividade e habilidade com as mãos. 
Eu queria convidar as amigas pra me visitar nas feiras de artesanato e divulgar meus trabalhos.  Criar oportunidade para crianças serem presenteadas com produtos coloridos e divertidos.
Mas o tempo passou depressa e as coisas mudaram. O mundo muda e se transforma o tempo todo.
Pandemia, ameaças a saúde e qualidade de vida. Redes sociais pra combater o isolamento exigido. Comunicação, marketing, estratégia, vendas...
Eu só queria a oportunidade de mostrar pra mim mesma que sou cor e arte. Sou capaz de transformar fios em roupas de boneca. Me ver reconhecida pela prática do crochê e criação de vestuário para bebês e bonecas.
Eu queria estimular as crianças a curtirem a infância, a brincarem mais com bonecas e casinhas. Queria que ocupassem seu tempo livre longe das telas e videogames.
Mas, pra isso tudo acontecer, preciso me posicionar, aparecer, fazer vídeos, Stories e Reels. 
Preciso conhecer minha persona, construir uma estratégia e usar muitos aplicativos...

E a demanda só crescendo... Insights, interações, engajamento...

Eu só quero fazer crochê!
Quero vestir muitas bonecas!
Quero estimular as pessoas a cuidarem melhor das suas crianças!
Quero sentir que "Ser você dá certo!"

Quero ser feliz!.
Quero ser apenas Eu.
Quero saber o meu lugar.
Descobrir minha missão de vida!


28 de julho de 2021

Você sabe o valor que tem?

 Hoje tenho um olhar mais gentil e generoso comigo mesma.

Aprendi a aceitar minhas marcas, aquelas rugas que mostram os sinais das provas ou desafios já superados.

Posso ter mais paciência comigo mesma, menos cobranças, mais aceitação.

Sou alguém que tem muitas vivências e histórias para contar.

Hoje posso me cuidar sem culpa. Minhas filhas já foram criadas e voam em busca de realizar seus próprios sonhos.

Aprendi muito com meus erros, principalmente a sempre corrigir, ressignificar e recomeçar.  Posso errar sem me justificar. 

Posso aprender todos os dias um pouco mais, e compartilhar!

Eu mereço, sou grata pela vida e tudo o que me proporcionou!

Posso me cuidar, me abraçar sem medo de ser feliz!

Posso me amar! Tenho meu valor!

E você, sabe o valor que tem?

@by_luelena