Alguns temas que acho interessante estão sempre voltando à minha mente. Uma das coisas que mais me dá prazer é aprender, por isso estou sempre pesquisando e buscando novos conhecimentos. Esta semana uma pessoa fez um comentário aqui no blog na postagem sobre resiliência "Como eu gostaria de ser deste jeito!".
Apesar de anônimo, o comentário me sensibilizou, e para ajudar a esclarecer um pouco mais, estou postando um texto de uma colaboradora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que achei interessante.
RESILIÊNCIA
Professora Sandra Maia Farias Vasconcelos, Dr.
Há mais de quarenta anos, a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas como numa rede engodada. Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?
As experiências e estudos feitos têm mostrado algumas explicações científicas sobre esse fato. A biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz ser mais resistente que outros. A psicologia, por sua vez, dá realce e importância das relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse indivíduo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las. A sociologia vai fazer referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa capacidade do indivíduo de suplantar as adversidades. A teologia traz um aporte diferente pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.
Mas foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro. Não são personagens de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças, velhos, o indivíduo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psíquicas, em si mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um indivíduo ao caos. Esses que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem autopunições, sem resignação destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.
A resiliência é um termo oriundo da física. Trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Esse termo passou por um deslizamento em direção às ciências humanas e hoje representa a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do indivíduo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física, mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contradições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida. Assim, um dos fatores de resiliência é a capacidade do indivíduo de garantir sua integridade, mesmo nos momentos mais críticos.
Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por um outro indivíduo, e essencial para o salto qualitativo que se dá. Alguns autores nomearam essas pessoas: Flash chamou-o mentor de resiliência; Cyrulnik chamou-o tutor de resiliência; muito antes Bolwby chamou-o figura de apego. Denominações a parte, a resiliência ganha hoje seu espaço na pesquisa em ciências humanas, médicas, sociais, administrativas etc.
Mas não se forma um mentor/tutor/figura de apego. Não se pode dizer que alguém vai ser a partir de agora esse indivíduo que vai chegar para operar o milagre. A resiliência é, na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor, ideias e conceitos que entram sorrateiramente nas ciências como causa e efeito, intervenção e resultado, hipótese e tese de que as relações intra e inter-humanas são relações que ultrapassam o rigor do empirismo para encontrar o acaso.
Fonte: VASCONCELOS, Sandra Maia Farias. Anais do 58ª Reunião Anual. SBPC. Disponível em:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF_SIMP/textos/sandravasconcelos-resiliencia.htm